A cada três anos, aos domingos, é lido o Evangelho de São Marcos. É o Evangelho mais curto, apenas 16 capítulos. Foi escrito em torno do ano 70 d.C., época de grandes perseguições.
O Evangelho responde à pergunta: “quem é Jesus?” E apresenta o modo de ser verdadeiro discípulo. Revela a divindade de Jesus, que é perceptível em seus gestos de grande misericórdia, mas também mostra de modo profundo sua humanidade.
Os leitores já sabem desde o início que Jesus é o Filho de Deus (Mc 1,1). Os espíritos impuros também o sabem, e só um centurião romano, quando o vê morrer, o reconhece como tal (Mc 15,39). Ao longo de todo o Evangelho, este título parece querer surgir, mas há sempre a ordem do silêncio, o segredo messiânico. Só na cruz este título aparecerá sem qualquer perigo de equívocos triunfalistas.
Marcos inicia com a vida pública de Cristo e encaminha para o seu Mistério Pascal: morte e ressurreição. Quando Jesus fica sabendo da prisão de João Batista, afirma que o Reino chegou: “esgotou-se o tempo”.
Do início ao fim do Evangelho, os discípulos estão presentes. Após o entusiasmo inicial, eles não entendem o mestre. Parecem cegos. Os discípulos não esperavam um Messias servo, como fora anunciado por Isaías. Por isso, Jesus começa uma longa instrução e fala abertamente sobre a sua morte. A instrução fica entre a cura de dois cegos. Ambas aludem ao que se passava entre Jesus e os discípulos. A primeira cura é apresentada em dois tempos (Mc 8,22-26). É a dificuldade de enxergar que Pedro e os discípulos têm, pois pensavam num messias sem cruz. A segunda cura apresenta Bartimeu como modelo do discípulo que segue Jesus no caminho para Jerusalém (Mc 10,46-52).
O Evangelho inicia e termina na Galileia (Mc 1,9.14.16). Antes de entrarem em Jerusalém, Jesus afirma que eles irão abandoná-lo, mas ele os precederá na Galileia (Mc 14,28). De fato, após a morte, o anjo ordena às mulheres a anunciarem a Pedro e aos outros que ele os aguarda na Galileia (Mc 16,7). Por que na Galileia? Porque lá tudo se iniciou. E agora eles estão prontos para professar Jesus através do testemunho de suas próprias vidas.
Artigo publicado na edição de julho de 2018 do Jornal da Arquidiocese, pág. 08.
Por Pe. Alcides Albony Amaral
Pároco da Paróquia Santo Antônio, Campinas, São José